quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Mas, e a vida?

Um poeta uma vez cantou a vida. Colocou-a nas bocas das crianças e com simples palavras e ao ritmo do samba criou uma das mais belas composições brasileiras. Sem desprezar sua origem e sem rebuscar os versos, ele expressou de forma mágica e contagiante sua visão da vida, sua visão de mundo. Um mundo onde não precisa ir longe para encontrar respostas, nem requer grandes conhecimentos em biologia para explicar as teorias do seu surgimento. Assim como a filosofia* não poderia deixar de ser, essa canção é fruto de um pensamento filosófico, gerado por uma mente questionadora e um olhar observador. Um pensamento concebido e expresso por meio de palavras, por mais simples que elas sejam. Esse texto é sobre como a capacidade de ler, escrever e, atualmente, usar as TICs, pode formar cidadãos conscientes, críticos e participativos e, conseqüentemente, um mundo melhor.

Em entrevista concedida ao programa Por Trás da Fama, exibido na última sexta (19), no MultiShow, a ministra Marina Silva relatou sua surpreendente história de vida (reprise dia 26/09, às 22h15...vale muito a pena conferir...um exemplo de política!!). Dentre todos seus relatos, “o mais mais”, na minha opinião, foi sobre sua alfabetização tardia. Ela contou como ocorreu seu primeiro contato com as letras. Para ela, a formação de sílabas e a junção desses caracteres e sons transformados em palavras foi algo mágico! Um depoimento desse tipo só vem a confirmar o quanto saber ler e escrever é fundamental para a socialização do indivíduo e para que as pessoas possam ser atuantes em seu micro e macro ambiente. Sua trajetória de filha de seringueiro à Ministra do Meio Ambiente exemplifica muito bem esse pressuposto.

De acordo com o Pnad 2007 - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo IBGE, em dez anos a taxa de analfabetismo no Brasil caiu 4,7%. Porém, de acordo com matéria da Folha Online, ele continua sendo o país da América Latina com o maior índice, perdendo, inclusive, para os mais pobres do continente, como Bolívia e Peru. Não por acaso, a pesquisa também revela que as desigualdades escolares refletem no rendimento médio das famílias, já que é em famílias com baixíssima renda (até meio salário mínimo...(pasmem, isso existe!!)) onde se encontram o maior número de analfabetos. O mais absurdo nisso tudo é que o brasileiro trabalha cinco meses do ano para pagar impostos que deveriam garantir a todos, independente da renda, uma educação pública de qualidade.

Fico perplexa ao refletir sobre tudo isso e até tendo a mudar o rumo desse texto para uma linha crítica negativista...Porém, volto a questão inicial: como ficaria incomodada e estimulada a pensar na situação político-social do nosso País se não fosse alfabetizada? Adiciono a essa pergunta uma outra: como escreveria esse texto e o disponibilizaria para outras pessoas lerem, sem ter acesso às novas TICs (TV à cabo e Internet) e, é claro, sem o conhecimento básico para operá-las?

O acesso às TICs pretendo tratar em outro momento, pois envolve um emaranhado de aspectos políticos, legais e mercadológicos. Mas a respeito do conhecimento para operar um computador, por exemplo, já é possível encontrar diversas iniciativas brasileiras no primeiro, segundo e terceiro setor da economia. Um exemplo bem interessante do terceiro setor é o Comitê para Democratização da Informática (CDI), que já extrapolou as fronteiras do Brasil. Em forma de REDE, o movimento da ONG é centrífugo. A partir de um núcleo (matriz) a REDE se expande para outros membros (CDIs). Cada CDI gerencia um grupo de Escolas de Informática e Cidadania (EICs), que seguem a proposta político-pedagógica do educador Paulo Freire e, desta forma, objetiva estimular a cidadania ativa e empreendedora, na medida em que ensina as pessoas a usar e a se apropriar dos benefícios da tecnologia.

Sendo assim, o fosso entre “os que sabem e os que não sabem” só poderá ser desfeito e a realidade brasileira transformada quando for somada à necessidade de alfabetização - completa e efetiva** - a educação em informática.

“Eu sei...(Eu sei)... que a vida devia ser bem melhor.... e será....!” (Gonzaguinha)

*uma disciplina indisciplinada...adorei isso!
** pois os índices de analfabetismo funcional no Brasil ainda são alarmantes

Um comentário:

Tadeu Inácio disse...

Parabéns, Denise!

Belíssismo texto, coerente e persuasivo. Gostei da abordagem. Te admiro bastante. Por isso, sou meio suspeito pra opinar...rs

Beijo