terça-feira, 9 de setembro de 2008

Era uma vez...

No mês passado foi comemorado o dia da Memória Organizacional, data comemorativa criada pela ABERJE-Associação Brasileira de Comunicação Empresarial com o objetivo de fomentar o tema entre os associados, entidades e empresas parcerias. Esse é um assunto que, note-se a margem, me desperta interesse desde a época da faculdade. Talvez por trazer as Relações Públicas para perto de uma vertente mais sociológica. Por considerar que o público interno de uma empresa, por exemplo, é mais do que um público de interesse, de quem depende os bons resultados da organização e conseqüentes lucros. Os funcionários são, acima de tudo, cidadãos cujas histórias de vida se entrelaçam com a história da empresa, do bairro, do Estado, do País e porque não dizer do mundo e da humanidade. O mesmo raciocínio serve para a comunidade onde a empresa está inserida, que é formada por cidadãos que ora são figurantes da história da organização e ora tornam-se personagens principais de uma história, onde a empresa é mais um item do cenário. Mas enfim, o intuito desse texto não é me ater às questões que me fazem ou não simpatizar com esse assunto, mas sim correlacionar História à Era da Informação e do Conhecimento.

A história, que na Idade Antiga era contada e compartilhada pela linguagem oral, ganha, a partir de 3.200 a.C., um upgrade com a invenção da linguagem escrita e ainda mais, no Séc. XV, com a chegada da prensa de Gutenberg, com a qual foi possível otimizar o registro de informações. A partir daí, a história ganha mais detalhamento e credibilidade, por ser possível a documentação de fatos e acontecimentos e pela facilidade de reprodução desses documentos, aperfeiçoando, inclusive, a disseminação de informações.

Uma das principais conseqüências do surgimento das cidades e dos Estados foi a escrita e vários são os fatores que explicam o nascimento da escrita como, por exemplo, a necessidade de contabilizar os produtos comercializados, os impostos arrecadados e os funcionários do Estado.

O que forma também a memória de uma civilização, além dos fatos, são as idéias e pensamentos, que perpassam por valores, princípios, modos de conduta, sonhos e expectativas, delineando toda uma cultura e suas peculiaridades. Pierre Lévy, filósofo da informação, afirma que “a memória é a base de uma cultura”.

Mas a grande revolução na forma de se construir, registrar e contar a história da humanidade se deu, em meados dos anos 70, com o surgimento das novas TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). Com grande capacidade de armazenamento de informações e alta velocidade de transferência de dados, as novas TICs, com caráter onipresente, provocam a transformação do “contar história” para o “fazer história”.

A interatividade proporcionado pela Internet, permite uma comunicação de via de mão dupla jamais vista na história. Na Era da Informação, o mero receptor descrito pela Teoria Matemática da Comunicação assume, ao mesmo tempo, o papel de emissor, além de permear livremente pelo meio alterando e construindo a mensagem.

Se os paradigmas da comunicação mudam, a forma das relações sociais e organizacionais também são alterados substancialmente. Atualmente, no âmbito corporativo, essas relações são consideradas e conservadas como patrimônio histórico das empresa. A construção de Centros de Memórias e o planejamento de ações estratégicas de fomento a história e cultura organizacional contam com as novas TICs como grandes aliadas no processo de Gestão da Memória Organizacional, seja com a utilização de softwares, bancos de dados, equipamentos de digitalização e com a própria Internet.

Com a rede mundial de computadores, vivemos uma mudança da narrativa histórica, com vozes que anteriormente não eram ouvidas, mas que compõem o arcabouço histórico, social e cultural de um povo. Antes, os livros contavam a história do ponto de vista de quem tinha o poder. Com a democratização da informação todos podem ser narradores de suas próprias histórias, promovendo, desta forma, o respeito mútuo e uma convivência enrriquecedora. Basta observar a quantidade de blogs e comunidades virtuais que invadem a web a cada dia, servindo de megafones e vitrines para os "anônimos", grupo ao qual me incluo, inclusive. “No protagonismo histórico, todas as pessoas têm um papel como agente de transformação da História. Democratizar e ampliar a participação dos indivíduos na construção da memória social é atuar na percepção que os indivíduos e os grupos têm de si mesmo” (Museu da Pessoa)

Nenhum comentário: